
Amazônia
Processos de degradação, vidas e diversidade perdidas
Ima Célia Guimarães Vieira, ecóloga,
pesquisadora do Museu Paraense Emilio Goeldi, membro da Coalizão Ciência e Sociedade, assessora da REPAM-Brasil
e perita no Sínodo para a Amazônia
“A situação da Amazônia é um triste paradigma do que está acontecendo em muitas partes
do planeta: uma mentalidade cega e destruidora que favorece o lucro à justiça; coloca em evidência a conduta predatória com a qual o homem se relaciona com a natureza. Por favor,
não esqueçam que justiça social e ecologia estão profundamente interligadas”.
(Papa Francisco, 2019)
QUADRO 1 - Principais elementos de pressão e de impacto humano na Amazônia brasileira.
Aumento da população – A população da Amazônia aumentou de 4 milhões, em 1950, para 27 milhões de habitantes, em 2015. Cerca de 70% da população encontra-se nas áreas urbanas. O crescimento dos centros urbanos leva a um aumento da pressão nos remanescentes de florestas em um raio de 20 quilômetros a partir desses centros.
Conversão de florestas por desmatamento - Ao longo da década 1996-2005, a Amazônia brasileira apresentou taxa média de desmatamento anual de cerca de 9.000km2 por ano. Em 2019, o desmatamento atingiu 803 mil km2.
Fogo e a formação de florestas degradadas - O aumento da incidência de fogo na Amazônia deve-se à expansão da fronteira agrícola, à fragmentação florestal e à extração de madeira e, ainda, pelos efeitos do aumento da variabilidade do clima.
Atividade madeireira – A Amazônia é um dos grandes produtores de madeira do mundo, mas a maior parte da exploração é feita de forma ilegal. Esse tipo de exploração, praticada de maneira predatória, contribui para a degradação florestal, aumentando a suscetibilidade das florestas às queimadas e o risco de extinção local de espécies e reduzindo os estoques de biomassa e carbono.
Usos da Terra - As atividades humanas ocupam 20% da área terrestre da Amazônia. Das áreas com atividades agrícolas, cerca de 66% são destinadas para pastagens e 6% para agricultura. Mais recentemente, investimentos do governo em infraestrutura, como hidrovias, ferrovias e rodovias têm incentivado a expansão da soja e de outros grãos.
Construção de barragens - Na Amazônia Legal existem 15 represas “grandes” (> 30 MW) e há outras 37 barragens “grandes” planejadas ou em construção, incluindo 13 represas ainda não enchidas, incluídas no plano de expansão de energia 2012-2021, além de outras 18 represas amazônicas previstas para construção e incluídas no plano de 2014-2023. Planos para novas barragens implicam na conversão de todos os grandes afluentes do rio Amazonas, a leste do rio Madeira, em cadeias contínuas de reservatórios. E sua construção afeta os ciclos biológicos e modos de vida de comunidades.
Mineração e garimpo – O garimpo e a mineração são duas grandes ameaças à Amazônia. Em julho de 2019, garimpeiros invadiram a Terra Indígena Waiãpi, no oeste do Amapá, e mataram de forma violenta o cacique Emyra Waiãpi. Em apenas dois anos, de 2017 a 2019, as TIs Munduruku, Kayapó e Yanomami tiveram 10.245 hectares desmatados por garimpeiros.